sábado, 10 de dezembro de 2011

Hoji (celebrações em memória)

Hoji, traduzido literalmente como "evento de dharma", é uma importante prática Budista para celebrar uma pessoa falecida e para rezar com sinceridade pelo repouso da sua alma. Também proporciona uma excelente oportunidade para a família e amigos consolidarem os laços humanos que o desaparecido provocou, para tomarem consciência do muito que devem ao falecido, para lhe renovarem a sua gratidão e para reflectirem profundamente sobre si próprios, em ligação com quem partiu.

Acredita-se que estas celebrações hoji irão aumentar o mérito da pessoa falecida, para que possa renasça na terra pura. Por este motivo, estas hoji são por vezes chamadas tsuizen-kuyo (prática mais recente de oferenda de bondade). Em Jucchikyo (Daśabhūmika-sūtra, "O Sutra dos Dez Estados") são ensinados três tipos de oferendas: (a) oferendas de incenso, flores, alimentos, candelabros, etc.; (b) oferendas louvor e reverência (cantando sutras e veneração do Buda e do seu ensino); (c) oferendas da conduta correcta (praticando o caminho do Buda e vivendo uma vida saudável).

Depois do Buda entrar no nirvana, os monges Budistas fizeram uma cerimónia de gassho e prostraram-se em frente ao stupa, onde os seus restos mortais estavam depositados. Este ritual comemorativo de reverência é a origem do hoji.

Hoje em dia, no Japão, depois de um funeral, a hoji é realizada todos os sete dias após a morte, num conjunto total de sete vezes. Estas celebrações em memória são chamadas kinichihoyo. Isto baseia-se na antiga ideia Indiana de que a alma do falecido deve permanecer num reino intermédio (chuin ou chuu em Japonês) durante 49 dias após a morte, divagando entre este mundo e o próximo. Cada período de sete dias marca uma perda gradual da ligação com este mundo e, no 49º dia, o falecido renasce em conformidade com a sua retribuição kármica.

Dogen Zenji escreveu, em Shobogenzo Doshin (Coração do Caminho):
"…Quando deixares esta vida e antes de entrares na próxima, existe um local chamado de reino intermédio. Deves permanecer aí durante sete dias. Deves estar determinado para cantar sem parar os nomes das três jóias, enquanto lá permaneceres. Depois de sete dias, passas para um novo reino intermédio e permaneces aí por não mais de sete vezes sete dias (49 dias)..."

Através da cerimónia de um funeral, é proporcionado a uma pessoa falecida que se refugie em Buda, Dharma e Sangha e que se torne um Budista ordenado. Enquanto se mantiver no reino intermédio, o falecido devota-se a si próprio às práticas Budistas, sob a protecção de muitos budas. Os familiares e amigos também apoiam e encorajam o falecido a praticar aplicadamente o Dharma, cumprindo hoji a cada sete dias. Este também é um período de tempo para a família enlutada chorar a perda, aceitando-o gradualmente e para recuperar a sensação de paz.

Também se realizam mais celebrações em memória após o 49º dia, tais como as do 100º dia e do 1º, 3º, 7º, 13º, 17º, 23º, 27º e 33º anos. Estas celebrações em memória de aniversário são chamadas nenkihoyo. São realizadas para apoiar o falecido que já seguiu para a terra pura que continue a caminhada no caminho do Buda. Normalmente, o 33º ano (por vezes, o 37º ou o 50º ano) é o ultimo (tomuraiage, "fim do luto"), assinalando o tempo em que se acredita que cada falecido foi absorvido no espírito ancestral geral. Significa que o espírito é gradualmente purificado pelo poder tsuizen-kuyo, acabando por perder a sua individualidade e se torna um verdadeiro bodhisattava (no Budismo) ou um deus guardião (em Shinto).

Quando rezamos pela felicidade de uma pessoa falecida, mesmo depois da morte e acumulamos a bondade ao realizar hoji (tsuizen-kuyo), vai acabar por trazer felicidade a nós próprios e para os nossos familiares que se mantêm vivos neste mundo. Deste modo, cumprindo hoji, os vivos e os mortos podem influenciar-se e ajudar-se mutuamente. Claro que só é possível quando o fazemos de verdade. Não devemos menosprezar o poder destes rituais.

Fonte: Sotozen-net